6 de dez. de 2010

Evolução das artes em conseqüência do uso de novidades na ciência e tecnologia

Por séculos, os sons usados na música eram criados através da fricção de cordas, da vibração do ar em tubos ou ao bater em algum instrumento de percussão ou teclas. Segundo alguns historiadores, a primeira tentativa da utilização da eletricidade para controlar sons ocorreu em 1759, através das experiências de Jean-Baptiste de La Borde que construiu o “Clavecin Electrique”, um instrumento de teclado que utilizava cargas eletrostáticas para fazer com que pequenas lâminas metálicas batessem em sinos produzindo os sons. Em 1874, o norte-americano Elisha Gray desenvolveu o Musical Telegraph, um dispositivo onde lâminas de aço vibravam e produziam sons controladas por um circuito elétrico auto-oscilante, através do acionamento por um teclado de piano, sendo os sinais de áudio eram transmitidos através do telefone. Como alternativa, Gray incorporou posteriormente um alto-falante bastante rudimentar para ouvir o novo instrumento. O norte-americano Thaddeus Cahill, em 1897, patenteou um instrumento denominado Telharmonium (também conhecido como "Dynamophone"), mas o primeiro modelo completo somente foi apresentado ao público em 1906. O Telharmonium era controlado por um teclado de sete oitavas, sinais de corrente alternada com freqüências de 40 Hz até 4 kHz eram gerados por um conjunto de dínamos com ressaltos em seus eixos quando estes passavam na frente de bobinas. O sinal produzido era convertido em som e amplificado acusticamente por cornetas, pois naquela época não existiam amplificadores. A idéia de Cahill era conectar o Telharmonium à rede telefônica, acoplando cornetas acústicas aos aparelhos telefônicos, para que pudesse oferecer um serviço de música a assinantes (hotéis, restaurantes, etc.). Na época, o custo para sua construção foi de 200 mil dólares. A aparência do Telharmonium estava mais para uma usina elétrica do que para um instrumento musical, pois pesava cerca de 200 toneladas e sua estrutura tinha mais de 18 metros de largura.

A válvula eletrônica (ou audion como foi chamada inicialmente), como o próprio nome sugere, esteve relacionada desde de sua invenção, em 1907 por Lee De Forest, com a reprodução de sons. A válvula permitiu o desenvolvimento de circuitos de rádio e também de circuitos osciladores e amplificadores em diversas aplicações. Com a ascensão do rádio, De Forest colaborou com Tadheus Cahill na execução radiofônica de concertos do Telharmonium, ideia rapidamente interrompida dada a insistência de Cahill pela transmissão via linha telefônica (o que, provavelmente, levou o empreendimento ao fracasso). Em 1915, De Forest chegou a construir um instrumento com teclado, usando um oscilador e a capacitância do corpo para controlar a afinação e o timbre da nota, o Audion Piano. Este processo foi aperfeiçoado e deu origem a um novo instrumento, o Theremin, como veremos a seguir.

O batimento entre duas ondas foi princípio que impulsionou a era do rádio, nas primeiras décadas do século XX. Consiste na combinação de duas ondas com freqüências altas (frequências de rádio), quando uma delas varia provoca uma pequena defasagem entre as ondas, isso gera um sinal (ou onda) relacionada à variação da amplitude, de frequência mais baixa (frequência de áudio), depois de passar por uma transdutor (um alto-falante, por exemplo) produz sons audíveis. Quando o estudante de engenharia, Lev Sergeivitch Termen, construiu um instrumento que se utilizou do princípio acima explicado ainda havia uma parte da comunidade científica que acreditava no éter, daí a explicação para o nome com o qual este instrumento foi batizado “Aeterphone” (eterfone). Criado em Moscou, em 1917, o “Aeterphone” não precisava ser tocado para produzir som, pois era operado por um campo magnético ao redor do instrumento, através de duas antenas: uma para controlar a frequência e outra para controlar a amplitude do som. Este instrumento representou uma excelente demonstração dos usos da eletricidade, de modo que foi apresentado a Lênin, que desejava popularizar a eletricidade na recente república socialista, outorgando a fabricação de aproximadamente 600 unidades para distribuir por todo o país. Em 1927, Lev Sergeivitch Termen imigrou para os EUA e ficou conhecido como Leon Theremin. Lá seu instrumento foi patenteado, ganhou o nome de Theremin e foi comercializado por todo o país, durante a década de 1930, tornando-se popular no meio artístico. Apesar de seu inventor o ter desenvolvido originalmente para a música erudita como um meio de prevenir a lesão por esforço repetitivo, o instrumento ficou famoso ao ser utilizado na música popular, como no caso do grupo Beach Boys na canção "Good Vibrations", ou do guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page, em apresentações ao vivo.

Em 1928, o violoncelista francês Maurice Martenot criou um dos primeiros instrumentos musicais eletrônicos com teclado, as “Ondes-Martenot”. O teclado fazia um anel deslizar num fio para posições pré-definidas, onde faziam contato com capacitâncias diferentes, controlando a freqüência de um oscilador eletrônico de válvulas termiônicas. As notas musicais podiam ser ouvidas através de um alto-falante, composto por cavidades e ressonadores.

Em 1935, Laurens Hammond, um relojoeiro norte-americano, construiu o primeiro órgão Hammond. O som era gerado usando o mesmo princípio do Telharmonium: o músico, através de dois teclados e uma pedaleira, ligava um motor que acionava um eixo com várias rodas dentadas, cada uma girando próximo a uma bobina magnética, produzindo assim uma corrente elétrica (sinal) oscilante. As várias rodas tinham números de dentes diferentes, gerando freqüências diferentes, que produziam as diversas notas do órgão.

O avanço da física quântica levou, depois de exaustivas pesquisas, ao aparecimento do primeiro transistor, Em 1948, nos laboratórios Bell (USA). Esta descoberta trouxe vantagens significativas, como reduções de tamanho, de consumo de energia e, sobretudo, de custo nos equipamentos eletrônicos. A indústria musical o aproveita desde então, sendo utilizado em diversos equipamentos de áudio desde então.

Grandes transformações ocorreram na música do século XX, novas mídias e tecnologias foram desenvolvidas para gravar, capturar, reproduzir e distribuir música pelo mundo, por exemplo através do rádio. Não sendo mais limitada a apresentações ao vivo, tornou-se possível aos artistas da música ganhar rapidamente fama nacional e até internacional. A invenção e disseminação dos instrumentos musicais eletrônicos e do sintetizador em meados do século revolucionaram a música popular e aceleraram o desenvolvimento de novas formas de música.


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